17 de mai. de 2009

Tens no ser girassóis
Querida pedra bonita,

Preciso lhe revelar: me apaixonei. Você me libertou das rusgas e mesquinharias cotidianas. Os tropeços, os engarrafamentos, os seres imprestáveis, o desânimo diuturno, o sistema perverso e todos os barulhos insuportáveis do viver se transformaram em estátuas de sal a dormir por mais de cem anos.

Em miragem concreta, veio você. Uma visagem limpando as heras, afastando os espinhos; tirando-me da caverna, acendeu em fogueira novamente meus versos. Lembrou-me das estradas eternas (e verdadeiras) que me vou.

Por sua causa, vi o ser humano se manifestar deus criador. Fazia tempo que as cortinas tinham se fechado para a admiração. Logo eu, que sempre acreditei haver alguns clareados por aí, estava me tornando opaca. Soturna demais. Mas você veio tão forte... Tão bela... Tão inesperada! Ascendeu-me as boas sensações dormentes. Agora me sinto vivaz, em paz e feliz! Seus dedos lisos, afagando os sulcos do tempo em minha face, deslizam em poema: "dorme um sono tranquilo na casa da paz".

As horas se tornaram telas a colorir e, meus olhos, duas lunetas voltadas às incontáveis estrelas do mar.

Em profundidade, inundo - por sua causa (e por minha) - meu caleidoscópio de sentimentos (giratórios e quebradiços) com a certeira esperança de que tudo passa. Percebo remontar os cacos em nacos amarelos e em tons alarajandos de "amanheceu vai além/tem nas mãos girassóis/brinca de ser o que for".

Rodopio as idéias e a força criativa assinala meu peito em alvo inscrevendo: "salta do nada, desata e dança ao redor". Leio nas pedras e volto a pertencer radiantemente acolhida. Meu peito saltita em percussão e "diz sorridente ao cigano que o sonho vingou/sai do abandono e ouviras as estrelas de luz".

Minha espontaneidade retoma as mãos e os desejos de fazer se jogam pelos meus ouvidos lambendo os tímpanos: "sai do silêncio, serena, serena canção/brinca de ser o que for/ tem nas mãos girassóis".

Inebriada de canção gargalho serenamente por minhas entranhas. Minhas veias convertem-se em instrumentos de sopro e minhas artérias em cordas de viola. Você penetra e me traduz em música. Risca em mim o nome do amor.

Sentir-lhe grava em mim "a laser histórias que ainda não sei ". Vou contente a repetir-lhe. Uma. Duas. Dez. Cem vezes. Num sem fim para me integrar a você como se integram as vozes uníssonas do coral. Pede bis. 14 Bis. Encantada me lanço em "riscos da arte/ capricho da sorte que vem".

Com amor,
Solange Pereira Pinto


Valeu Solange!!!