Estava andando pela rua quando de repente eu me vi perdido em Abbey Road...
Era assim que os roqueiros brasileiros estavam naquele início da nova década, a de 80. A disco music estava indo embora, mas havia deixado danos quase irreparáveis. Cadê o rock brasileiro? Os memoráveis shows do Tereza Rachel, no Rio, estavam escassos. Não havia mais o Joelho de Porco, o Made estava sumido, Rita Lee havia mudado de ares musicais, os Novos Baianos estavam partindo do Farol da Barra. Enfim, era triste a cena para quem curtia um bom rock brasilis.
Eis que de repente, no Jornal Hoje, ouve-se a notícia que um grupo novo, de Minas, ia fazer show de lançamento de seu LP, no Teatro dos Quatro (sic). Este não era o local mais indicado para um show de rock. Mas alguns membros do grupo valiam o ingresso em qualquer lugar: Flávio Venturini e Sergio Magrão, ambos ex-O Terço. Os outros membros, Vermelho e Hely Rodrigues vinham do Bendegó, e Claudio Venturini, irmão mais novo de Flávio, vinha tocando com Lô Borges. Era o 14 Bis que chegava, apadrinhado por Milton Nascimento
Foi uma estréia nervosa. O teatro estava lotado naquele quente mês de Março de 1980. Todos queriam saber se o grupo era uma releitura d’O Terço ou trazia uma nova mensagem. E, é claro, todos estavam lá para ver e ouvir Flávio e Magrão e seus belos duetos vocais. Na platéia estava Sergio Hinds, do Terço, animado com as versões que seriam apresentadas do repertório de seu grupo.
Flávio começou sozinho, ao piano, tocando a bela abertura instrumental, trazendo aos poucos os outros integrantes. As comparações com 1974 (do "Terço"), foram inevitáveis. A música, interpretada perfeitamente, encaixou como uma luva em Criaturas da Noite, a primeira do Terço a levar a platéia ao delírio.
Mas a grande surpresa estava nos “clássicos” que o 14 Bis começou a tocar. Na verdade, as músicas de seu disco de estréia. Eram belas canções que mesclavam rock, com country, com valsa, resultando na platéia toda de pé, a cada música tocada. As influências de cada membro da banda eram sentidas, como o lado mais roqueiro de Claudio Venturini, os "sopros de Beatles" por parte de Flavio e Magrão (sem contar do próprio "Terço"). As "raízes tradicionais mineiras" eram evidentes em Vermelho e Hely. O grupo nasceu grande e arrebatou o público