6 de mar. de 2009

A Sonoridade Barroca do 14 BIS

Se o 14 Bis já é um grupo musical original por conta da fusão rock/pop/MPB, ele apresenta ainda uma outra característica inovadora no cenário da música popular brasileira: o resgate de elementos do barroco, estilo artístico que tanto marcou a história de Minas Gerais. Uma das características mais marcantes da música barroca é o contraponto, isto é, a superposição de duas ou mais melodias que reproduzem um determinado tema. Nesse sentido, a música barroca é uma música “polifônica”. O 14 Bis tem como traço vocal característico a harmonização polifônica das vozes, o que constituiu uma novidade em termos do rock brasileiro, cujos grupos, em sua maioria, até hoje ainda cantam em uníssono. Mais ainda, a marca registrada do 14 Bis é o seu vocal de falsete, recurso até então muito pouco explorado na MPB, o qual remete, sem dúvida, ao vocal dos castrati, cantores de ópera dos séculos XVII e XVIII que, por terem sofrido ablação dos testículos, conservavam uma voz aguda e infantil mesmo depois de adultos. Assim, o vocal do grupo lembra muito um coral infantil, típico das cantatas e oratórios barrocos.Outra característica “barroca” do grupo é o uso de uma sonoridade típica da música sacra, com o emprego abundante do órgão e, vez por outra, de sinos (como em Pedras Rolantes, de 1980, por exemplo). Nessa música, a própria melodia, somada ao arranjo instrumental e à vocalização coral, cria um clima de religiosidade. É claro que o uso do órgão não é exclusividade do 14 Bis, já que o rock progressivo dos anos 60 e 70 fez amplo uso desse instrumento (e dos teclados eletrônicos em geral), mas no grupo mineiro o órgão assume um tom quase religioso, o que raramente se encontra no som de bandas como Yes, Genesis ou Pink Floyd, por exemplo. Aliás, o órgão, instrumento pouco comum na MPB, é companheiro constante dos músicos mineiros. Basta lembrarmos os acompanhamentos de órgão de Wagner Tiso nos discos de Milton Nascimento e o famoso órgão da abertura de Agnus Sei, de João Bosco, por sinal uma canção com temática religiosa. Na música mineira em geral, e na do 14 Bis em particular, a presença do órgão — e às vezes também do cravo — tem muito mais ligação com a tradição barroca do que com o rock progressivo de origem britânica. Isso se nota claramente numa peça como Salve Rainha, de Tavinho Moura e Zé Eduardo, gravada por Beto Guedes em 1977 com arranjo vocal e instrumental de Flávio e Vermelho, onde o órgão e os vocais de fundo lembram propositalmente um coral de igreja, o que é acentuado pelo título da canção.

4 comentários:

Anônimo disse...

Comentem por favor!! abraço

Vânia Siqueira disse...

Muito bem sr. Gleidson... ótima matéria sobre a música barroca... e como é fascinante todas essas histórias...
Nosso FC Além Paraíso também é cultura...
Abração migooo...

Kellen disse...

muito bem ...!!!
grande abraço

kellen

Laura Araújo disse...

Parabéns amigo!!! Adorei a matéria. Bom saber que estás preparado para a próxima, né? hauhauhauhau.
Bjos no seu cori e vamos que vamos!!!!